Umas das drogas mais consumidas deste século, a cocaína tonou-se um problema de ordem nacional. Causando dependência imediata, não oferece muitos caminhos aos seus usuários, apenas um, e quase sempre sem volta: a morte. A cocaína é uma droga psico-estimulante extraída a partir da folha da coca, a Erythroxylon Coca, originária da América do Sul. 

Podendo ser consumida em forma de pó, aspirada pelo usuário, ou solvida em água onde pode ser injetada na veia, a cocaína também pode ser encontrada em forma de base, que por ser pouco solúvel, são volatilizadas quando aquecida, sendo fumadas em “cachimbos” e até mesmo cigarros de maconha ou tabaco.


Cérebro


Uma vez consumida, a cocaína age sobre o Sistema Nervoso Central, aumentando a liberação e prolongando o tempo de atuação dos neurotransmissores “dopamina”, “noradrenalina” e “serotonina”, os quais são atuantes no cérebro. A “dopamina”, além de ser o neurotransmissor que causa a dependência é também responsável por dar a sensação de prazer que o consumo da droga causa, além de outros comportamentos gratificantes como fazer sexo, comer ou saciar a sede; a dopamina também está relacionada ao comportamento motor fino, a cognição/percepção e controle hormonal.


A “noradrenalina” e “serotonina” se relacionam a algumas funções comuns como o controle de humor, motivação e cognição/percepção; isso explica a mudança de humor nos usuários os tornando ora dócil ora agressivo. 

De efeito rápido e breve, a cocaína quando fumada pode levar de 10 a 15 segundos para atuar no cérebro, durando cerca de 5 minutos o efeito. Em forma de pó o efeito é mais demorado, podendo levar até 15 minutos para atuar, já via intravenosa cerca de três a cinco minutos. 


No organismo


Os efeitos no organismo são diversos. Podem causar sensação intensa de euforia e poder, estado de excitação, hiperatividade, insônia, falta de apetite, perda da sensação de cansaço, dilatação de pupilas e aumento da temperatura corporal. Se consumidos via nasal pode haver um ressecamento das narinas, gerando até uma necrose nessa área pelo uso esporádico. Além disto, a droga também causa efeitos cardiovasculares, a pressão arterial pode aumentar e o coração bater mais rápido, chegando a produzir parada cardíaca. Esses efeitos são: taquicardia, hipertensão e palpitações. A morte pelo consumo excessivo da droga também pode ocorrer devido à diminuição de atividade de centros cerebrais que controlam a respiração. 


Agravantes


Consumir cocaína juntamente com bebidas alcoólicas produz consequências mais graves do que o uso destas substâncias separadamente. Ingerir o álcool aumenta a “fissura” (vontade incontrolável de sentir o prazer que a droga provoca) pela cocaína, os riscos de episódios de perda de controle e intoxicação são mais graves. 

Quando se consome a cocaína juntamente com bebidas alcoólicas, fenômeno frequentemente observado entre usuários de cocaína, o fígado combina as duas drogas e produz uma terceira substância, denominada “cocaetileno”, que intensifica os efeitos euforizantes da droga, mas é extremamente prejudicial ao organismo e aumenta os riscos de morte súbita. 


Estatísticas


O II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil - estudo envolvendo as 108 maiores cidades do País, realizado em 2005 pela Secretaria Nacional Antidrogas – Senad em parceria com o Cebrid/Unifesp e que envolveu 7.939 pessoas, entre 12 e 65 anos – revelou que o uso de cocaína na vida foi relatado por 2,9% da população (5,4% dos homens e 1,2% das mulheres), no último ano por 0,7% e no último mês por 0,4%. 

A mesma pesquisa revela que em relação ao crack a proporção de indivíduos que relataram ter consumido crack pelo menos uma vez nos últimos 12 meses que antecederam a pesquisa (Brasil/2005) foi de 0,14% dentre os 7.939 entrevistados. Já a média de idade dos entrevistados que responderam positivamente à pergunta: “Que idade você tinha quando usou crack pela primeira vez?” foi de 23,18 anos. 

Em 2004, o Cebrid também realizou o V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino, nas 27 Capitais Brasileiras, ouvindo 48.155 estudantes. 

Neste estudo foi constatado que o uso de cocaína na vida foi relatado por 2% dos estudantes, no último ano por 1,7% e no último mês por 1,3%. Quando relacionando as diferentes regiões do País, a Região Norte apresentou 2,9% de usuários, Região Sudeste 2,3% e a Região Centro-Oeste 2,1%. 

Outra pesquisa realizada pelo Cebrid foi o Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas entre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua nas 27 Capitais Brasileiras – 2003. Este estudo foi realizado com 2.807 crianças e adolescentes, entre dez e 18 anos, assistidos por instituições governamentais ou não-governamentais. 

A partir deste levantamento verificou-se que os estados com maiores índices de uso de cocaína recente, ou seja, no último mês, foram: Rio de Janeiro (45,2%), São Paulo (31%), Boa Vista (26,5%), Brasília (23,9%) e Recife (20,3%). Quando reduzido aos usuários de crack, São Paulo, Recife, Curitiba e Vitória foram os estados com maior prevalência (entre 15 e 26%). Já em relação à merla, Brasília (19,3%), Goiânia (17,1%), Maranhão (15,5%) e Boa Vista (10,3%) foram os estados com maior prevalência 


Considerações


Atualmente o governo do Estado de São Paulo propôs uma espécie de “bolsa crack” que serviria para a reabilitação dos dependentes químicos, algo entorno de R$1,350. A proposta não foi bem aceita pela população que criticou os governantes de estarem usando disto para mais desvio de verba. Outros, porém, criticaram o fato da educação estar em decadência e de que tratar pessoas que “destroem a vida voluntariamente” não deveria ser uma prioridade. 

Vamos aos fatos. Existem diferentes verbas que são destinadas para determinadas necessidades de um Estado como educação, saúde, cultura, esporte etc.. Este dinheiro parte da verba que é destinada a saúde. O que os brasileiros não entendem, ou não querem intender, é que o combate ao consumo das drogas, bem como a reabilitação das pessoas que, por um motivo ou outro acabam por se enveredar nestes caminhos, são de ordem das “políticas públicas”. O Estado tem a obrigação de interceder por seus habitantes. 

Ajudar famílias que enfrentam este problema não é priorizar um problema menor na sociedade. Todos têm o direito à vida e a uma segunda chance. Auxiliar esses dependentes é uma forma nobre de enfrentar umas das maiores problemáticas da sociedade: a negligência frente à saúde pública. Usuários de drogas são marginalizados e postos de lado, como se torna-los invisíveis fosse a forma mais correta de enfrentar o problema. Não é. 

Algumas pessoas tem em mente que “bolsa crack” é uma forma de financiar aos usuários a droga. Por favor, usem a cabeça! Como poderia haver algo assim? Esse dinheiro será destinado à reabilitação dos dependentes químicos por um período de seis meses. Pouco. 

De qualquer forma, é um jeito de colocar nos eixos um problema que há décadas vem sido deixado de lado. Apoio esta iniciativa porque sei o que é este problema de perto. Vivencio a luta de mães cujo único combustível para enfrentar esta tormenta é a esperança de um dia ver seus filhos longe deste “mal do século”. Pensemos, pensemos. 

Referências

Cocaína. Disponível em: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_conteudo=11330&rastro=INFORMA%C3%87%C3%95ES+SOBRE+DROGAS%2FTipos+de+drogas/Coca%C3%ADna

‘Bolsa crack’ de R$ 1.350 vai pagar internação de viciados do Estado de SP. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,bolsa-crack-de-r-1350-vai-pagar-internacao-de-viciados-do-estado-de-sp,1029486,0.htm