Vivemos em uma corrida constante pautados, quase sempre, pelo tempo. Essa corrida talvez seja a grande responsável pela forma como agimos, pela falta do sincero e entusiasmado “bom dia!”, “como vai!” ou “como está?”. Resumindo, a falta de gentileza como sentimento espontâneo. 

Hoje temos um histórico muito grande de mortes no trânsito, que por mais incrível que pareça, acontece por brigas e discussões entre os motoristas. A falta de tolerância, mesclada ao estresse, muitas vezes causado pelo ritmo acelerado das grandes cidades, resultam em muitas dessas tragédias. Não nos interessamos por ouvir ao outro, e a gentileza, o amor ao próximo, tão difundida pelo cristianismo, parece se afrontar aos princípios, que na maioria das vezes, trazemos de casa. Não interessa saber o que o outro pensa saber, quais dificuldades o outro está passando ou até mesmo se seus problemas são maiores ou menos graves do que o nosso. 

Não é de se estranhar, somos criados em uma sociedade egoísta, obrigados a ser educados e cordiais. Aliás, considerados cordiais, porque se Sérgio de Holanda ainda estivesse vivo, concluiria que o povo brasileiro é tudo, menos cordial. Não existe cordialidade em matar por diversão: mendigos que dormiam em uma praça pública, como o ocorrido em Campinas (SP), no final de 2011. 

Contudo, quando se é obrigado a ser educado... cordial... gentil... não podemos dizer que o resultado é satisfatório. 

É engraçado, mas quando criança é comum às brigas entre irmãos, e como medida de solução, os pais não despertam o desejo de compaixão e arrependimento dos filhos. Eles, literalmente, obrigam seus filhos a “pedir desculpas” um ao outro. E assim, crescemos, achando que a gentileza é algo imposto, que temos a obrigação de ser. Neste contexto de conflitos, abandonamos a esses hábitos, que deixam de ser natural e passa a ser obrigatório. Uma falha lamentável que ocorre na educação. 

Se nossa salvação dependesse da gentileza, como no purgatório de a Divina Comédia, certamente estaríamos perdidos. Bom, mas o que poderia parecer piegas, ou apenas cena de filme americano, faria uma diferença notável no mundo. Talvez se a gentileza, em toda a sua complexidade, fosse usada, nossa realidade seria outra. Muita coisa poderia ser resolvida com um simples “perdoe-me”, “obrigado”, “não há de quê”... Imagine, talvez o paraíso de Lennon se tornasse real e o de Dante facilmente alcançável...

Por João Gusttavo