Fundada em 5 de março de 1919 pelo coronel Alfredo Serra Júnior, mais conhecido como “Doutor Serrinha”, a Associação Atlética Paraisense (AAP) completou 97 anos de história. Durante esse período, o clube viveu um passado repleto de altos e baixos, tentando de 1952 a 1956 subir para a liga profissional. Em 1956, na disputa contra o time Valériodoce, em Itabira, na final do Campeonato Mineiro da Segunda Divisão, a “Mais Querida” de São Sebastião do Paraíso, dependia de um empate para subir para a liga, mas o centroavante conhecido como Mingo, perdeu os dois pênaltis, levando o time a derrota e ao desânimo do clube em ter um time profissional.

Esse fato marcante na história da Paraisense, dizem, foi proposital. É o que afirma o taxista Itamar Bonfim, conhecido da comunidade paraisense que durante muitos anos foi árbitro de futebol e comentarista esportivo e viveu todas as glórias e tristezas por qual o time passou. “Dizem que o Mingo estava comprado, que havia perdido de propósito, ele saiu fugido da cidade”, conta Itamar que, aos 73 anos, recorda-se, emocionado, de vários momentos importantes na história da Paraisense. No entanto, ao ser entrevistado em programas esportivos na então Rádio Difusora Paraisense, na época, e quando veio a Paraíso posteriormente, Mingo negou, atribuindo a perda dos pênaltis a uma infelicidade. “Sou apaixonado pelo time, meu pai amava o clube e me levava aos jogos, nunca houve um período tão importante na história do nosso futebol como aquela geração dos anos 50”, recorda Itamar Bonfim.

Dentre as conquistas da AAP, as que são lembradas, e que marcaram época para o time de Paraíso, ocorreram no Campeonato Mineiro da Segunda Divisão, tendo no currículo dois vices (1989 e 1995) e o título obtido no Campeonato Mineiro da Terceira Divisão, em 2001; além de ter participado do Campeonato Mineiro da 1ª Divi-são em quatro oportunidades: 1990 (8º lugar), 1991 (8º lugar), 1992 (15º lugar) e 1996 (12º lugar). Em1989, em uma partida emocionante, ela empatou com o Ipiranga em Manhuaçu e subiu pela primeira vez a elite do futebol mineiro.

No gramado do Estádio Comendador João Alves, a Paraisense recebeu grandes equipes como Fluminense, Santos, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Guarani, Ponte Preta de Campinas, Botafogo, Comercial de Ribeirão Preto, Ferroviária de Araraquara, além de grandes equipes do cenário regional e nacional.

Depois de paralisado por algum tempo, foi nos anos 80 que a Mais Querida voltou a movimentar o futebol no município. Enfrentou e ganhou de equipes que faziam parte dos principais campeonatos mineiro e paulista. Foi nesse período que o ex-zagueiro da primeira formação profissional e atual secretário de Esporte do município, Tomás Martins, atuou na Paraisense.

“Em 1980 o AAP voltou ao campeonato profissional, nessa época eu entrei como jogador profissional. Comecei no clube como mascote, de 1978 até 80 eu fiquei no futebol amador; de 80 a 82 joguei no profissional, depois disso fui estudar e tive que parar com o futebol. De 1980 a 1989 a Paraisense tentou subir para a primeira divisão; em 89 ela ficou em segundo lugar, na segunda divisão, foi um dos momentos mais marcantes da minha vida”, recorda o secretário de Esporte.

“Foi uma vitória que me emociona até hoje, quando a Paraisense foi para Manhuaçu, onde jogava pelo empate para subir para a primeira divisão pela primeira vez. Nós começamos ganhando de 1x0, depois o Ipiranga virou o jogo para 2x1. Aos 43 do segundo tempo conseguimos empatar, lá em Manhuaçu com um gol de Sérgio Vilela, e pela primeira vez na história da Paraisense, conseguimos subir para a primeira divisão. Foi muito e emocionante; até então o time adversário estava fazendo festa, comemorando, e conseguimos ganhar do último momento. Aquele momento não sai da minha, eu estava no estádio, trabalhando na transmissão do jogo”, recorda Tomás.

Esse também é um momento que emocionada o taxista Itamar Bonfim, que foi o idealizador da Taça Paraíso em 1989, campeonato que até hoje acontece no município. Outro momento que também emociona o taxista, foi um jogo em que o Corinthians esteve no município, na década de 1970, no qual o pároco da época, Monsenhor Mancini, conhecido por todos por sua seriedade e rispidez, ganhou uma camisa autografada por um dos ícones do Corinthians, Roberto Rivellino. “Ele chorou muito de felicidade”, recorda Bonfim, também emocionado. A camisa ficou exposta por um bom tempo no saguão de entrada do Cine São Sebastião.

Bonfim também se lembra do secretário Tomás Martins que, para ele, também foi um dos grandes heróis do futebol que Paraíso já teve. Martins foi presidente da AAP 2002 a 2004, e coleciona uma série de lembranças saudosas, da infância até a extinção do futebol profissional da AAP. “A Paraisense de 2004 para cá, não disputou mais nenhum tipo de campeonato. Hoje, só tem o time veterano. Infelizmente, ela só existe como nome que uma ação de clube propriamente dito. Eu acompanho a Paraisense desde os 6 anos, vi muita coisa bacana acontecer”, recorda.

Tomás recorda ainda de uma partida entre a Paraisense e o Milionários, que entre outros craques tinha o legendário Garrincha, Djalma Santos, Amaral e uma série de jogadores importantes. “Eu tenho uma lembrança dessa época que marcou muito. O time dele estava hospedado no Hotel Achei, no Centro. Lembro-me quando o Garrincha estava conversando no orelhão, com a esposa dele, Elza Soares, quando ela deu a notícia que estava grávida do Garrinchinha. A gente ficava tudo ali ao entorno do hotel para pegar autógrafo. Eu me lembro como se fosse hoje, ele na praça, de bermuda e chinelo, conversando com a turma dele e falando do filho que ia nascer”, relata o secretário de esporte.

Não mais como jogador, Tomás conta que já foi diretor e fez parte do departamento médico do clube. “Eu me lembro que 1990, quando a Paraisense subiu, nós fomos a BH jogar contra o Cruzeiro no Mineirão. O ônibus quebrou na avenida Antônio Carlos, o jogo estava marcado para 8h30, era 7h30 e ainda estávamos parados na rodovia, a torcida do cruzeiro passando, mexendo com a gente. Nós levamos uma goleada de 4x1. É outra lembrança que tenho, já como membro da imprensa e da diretoria do clube”, conta.

“Depois disso, aconteceu muita coisa, vários times importantes vieram a Paraíso disputando campeonatos, vários jogadores importantes passaram por aqui. Houve a reinauguração da iluminação do estádio em 1996. Na época nós jogamos contra os Democratas de Governador Valadares, que estava começando a lançar o jogador Fábio Junior como profissional, nós empatamos o jogo na época. O diretor Darci Menezes, que tinha sido zagueiro do Cruzeiro, veio aqui, tivemos esses encontros memoráveis”, finaliza Martins.

O Clube, que já possuiu invejável patrimônio, inúmeros bens, hoje conta apenas com o Estádio Comendador João Alves, que de acordo com a doação feita, pertencerá à Associação enquanto houver diretoria. Caso contrário retornará aos herdeiros do doador da área. Mas o atual presidente, Cláudio Passagem, garante que essa perda nunca vai acontecer e que, no que depender dele, a AAP sobreviverá por muito tempo. “A Paraisense sofreu um período de abandono, diretorias que por lá passaram acabaram com tudo que a AAP possuía, nunca cumpriram com o estatuto. Estamos fazendo o possível para manter o clube e reergue-lo”, comenta.

Passagem ressalta ainda que para as eleições que acontecem para a formação da nova diretoria do clube, no próximo dia 9 de abril, sábado, só participarão os 38 associados que hoje compõe a AAP. “Vamos fazer valer o estatuto, principalmente o artigo 44, que diz que ‘o associado que concorre ao cargo só poderá participar de uma chapa e para um único cargo, com pelo menos um ano de registro como associado’”, completa.

Nestes 97 anos de existência a Associação Atlética Paraisense recebeu e revelou atletas valorosos em suas equipes amadoras e profissionais. Contou com diretores abnegados que com muito esforço se desdobraram para a formação e manutenção dos elencos.

Neste contexto, por sua visão empreendedora, bem além de seu tempo, há de se lembrar e se reverenciar o grande presidente Fulvio Guidi, a quem cabe um capítulo especial na história da Mais Querida, notadamente nos anos 50 e início da década de 60, e, também a Waldemar Lanzoni, o grande goleiro que depois, com muito zelo, manteve equipes amadoras de alto nível, por muitos anos. Em nome de Fulvio Guidi e Waldemar, o Jornal do Sudoeste homenageia a todos diretores e diretorias que tiveram sua parcela de trabalho ao longo destes 97 anos de história da Associação Atlética Paraisense.

Matéria originalmente publicada na edição 1985 do Jornal do Sudoeste,
São Sebastião do Paraíso/MG