O processo de globalização que contribuiu para o estreitamento das relações entre diversas culturas, no que se diz respeito não somente a questões relativas à economia, mas ao fácil intercambio das informações, foi algo que originou, indiscutivelmente, a realidade de hoje, tal como nós a conhecemos. Neste processo de quebra das restritas relações sociais, podemos destacar o desenvolvimento das tecnologias comunicacionais desde o século XIX, como a invenção do telegrafo e a descoberta das ondas de rádio. Essas tecnologias, que foram se desenvolvendo e deram origem ao que hoje podemos definir como a imensa indústria cultural, provida destes meios de comunicação de massa, foi e é um dos principais elementos que impulsiona a moderna sociedade do consumo e é a principal responsável pela constante alteração dos valores cognitivos.

Hoje, a comunicação de massa é o carro mestre que dita o comportamento humano, que nos diz o que devemos ou não consumir ou o que devemos pensar. O capitalismo encontrou nos meios de comunicação uma forma de se desenvolver alem do que às grandes empresas manufatureiras podiam proporcionar. Podemos perceber que muito alem da informação, as mídias se tornaram um verdadeiro mercado de livre acesso; estimulando-nos a comprar através de vasta publicidade e criando, assim, um ciclo compulsivo de consumo. A manipulação intrínseca a esse processo se fez necessária e hoje é uma das molas propulsoras para o consumismo exacerbado e o controle político sobre a população. 

Não, não estamos invulneráveis a nenhum tipo de manipulação em massa. O processo que há por trás disto foi algo que se levaram gerações até nos condicionar, por exemplo, que usar Nike ou beber Coca-cola é o legal. Essas questões que implica no nosso comportamento poderiam ser explicadas pela teoria behaviorista, que embora falha em alguns aspectos, nos dá uma ampla dimensão de como isto ocorre. Segundo esta teoria, inicialmente formulada pelo psicólogo estadunidense John B. Watson, em 1913, o comportamento humano é uma resposta gerado por estímulos, assim, crê-se que é possível controlar a conduta de um individuo tendo como base o ambiente em que ele vive. E isto é um fenômeno facilmente observável. 

Fernando Rebouças, publicitário que escreve para o site Info Escola, faz uma definição concreta sobre essa relação do capitalismo, consumo e cultura: “O mundo vive num sistema econômico-político-cultural capitalista e o surgimento da sociedade capitalista transformou as manifestações culturais em produto”. Como toda indústria, a cultural também é voltada para a obtenção do lucro. Um exemplo maciço de indústria cultural é a própria televisão, presente na maioria dos lares brasileiros. A TV é uma das principais responsáveis pela criação de fenômenos culturais. Através de seriados, novelas ou filmes, criam-se heróis e vilões que cativam o seu público e passam a ser seguidos. Neste âmbito, a criação de produtos como camisetas, brinquedos, CDs, DVDs entre outros, são vendidos criando a falsa ilusão de aproximação entre o ídolo e o seu fã. 

Esta falsa ilusão, que tanto alimentam milhões de pessoas e cria uma sociedade extremamente neurótica, onde o comprar se transforma em terapia e o ter uma necessidade, faz com que caímos em uma rotina de consumo que não para. Cada dia que passa um novo produto surge e o que tínhamos já não serve mais. Então temos que ter o mais recente e assim sucessivamente, para não termos aquela sensação de estarmos ultrapassados, fora de moda – moda esta que é definida pelas mídias. 

Seguindo está lógica, começamos a enxergar nos produtos uma forma de nos identificamos. “Com que roupa as pessoas irão me achar mais legal?”, “qual carro combina mais comigo?” e etc.. Tornamos-nos não aquilo o que realmente somos, mas aquilo que temos e de uma forma irracional os produtos passam a nos consumir e não o contrário. 

O filme Clube da Luta contextualiza, de certa forma, nossa realidade. Fazendo uma crítica muito bem elaborada sobre o capitalismo e a forma como nos entregamos a ele, abdicando nossas vontades e deixando de viver para nós mesmos, o filme aponta, alem destes aspectos envolvendo o consumismo como a “alma” do ser humano, a nossa busca desenfreada pelo bem estar pessoal. Em uma das falas do personagem de Brad Pitt, ele diz que “somos subproduto de uma obsessão por um estilo de vida”. Isso sem dúvida é um comportamento que nos é passado desde o momento do nascimento até o momento de nossa morte. Vivemos em um mundo que se baseia na relação de compra e venda, não importando os sentimentos ou quem nós somos. Somos um produto, na concepção capitalista, que necessita de outros produtos e, assim, estabelecesse esta relação infinita que ao mesmo tempo em que é negativa, torna-se necessária as nossas vidas.